05 Fev O seu filho/aluno tem dificuldades de aprendizagem?
Num passado recente as crianças com dificuldades específicas de aprendizagem, como a dislexia, a disgrafia, a disortografia, eram vulgarmente apelidadas de incapazes, pouco inteligentes e de outros adjetivos negativos que, pronunciados de forma permanente e sistemática, faziam com que a autoestima, autoconfiança e a predisposição da criança para a aprendizagem e o conhecimento fossem altamente condicionados.
Atualmente, embora já exista uma maior sensibilidade e conhecimento acerca destas temáticas, continua a haver bastantes dificuldades no seu diagnóstico, na definição de medidas de suporte à aprendizagem e inclusão e até na intervenção multidisciplinar e articulada (que deve ser consistente e permanente), para que estes obstáculos sejam minimizados.
Assim, os professores do ensino regular e de educação especial e os técnicos especializados como psicólogos, terapeutas da fala, devem reunir esforços no sentido de dar a conhecer estas temáticas e sensibilizar os pais e encarregados de educação para o impacto negativo que a ausência de uma orientação e acompanhamento poderão gerar.
Os sinais de alerta mais significativos a ter em conta, na dislexia, são os seguintes (Sally, Shaywitz, s.d., citado por Teles, 2004; Teles, 2004):
- Em idade pré-escolar (até aos 5/6 anos):
– Manutenção de um padrão imaturo de fala, frequentemente descrito como “fala de bebé ou de linguagem abebezada”;
– Dificuldade em aprender coisas novas, como nomes de cores (verde/vermelho), pessoas, objetos, lugares, etc.;
– Dificuldade em memorizar canções e lengalengas;
– Dificuldade na aquisição de conceitos de tempo e espaço básicos: ontem/amanhã; direita/esquerda; depois/antes;
– Dificuldade em compreender que as frases são formadas por elementos menores (palavras) e que estas se podem segmentar em unidades mais pequenas (sílabas);
– Dificuldade em conhecer as letras do seu nome próprio;
– Dificuldade em aprender e recordar os nomes e sons das letras.
- No 1º ano de escolaridade:
– Dificuldade em compreender que as palavras são constituídas por sílabas e sons/fonemas;
– Dificuldade em associar as letras aos sons;
– Erro de leitura por desconhecimento dessa correspondência: vaca/faca, janela/chanela, calo/galo, por exemplo;
– Dificuldade em ler monossílabos e palavras simples: ao, os, pai, bola, rato;
– Dificuldade na leitura de palavras isoladas e pseudopalavras;
– Comportamentos de recusa/adiamento de tarefas de leitura e escrita, manifestando relutância e lentidão na sua realização;
– Necessidade de acompanhamento individual do professor/pais para continuar/terminar as tarefas e trabalhos;
– Queixas de pais e professores em relação às dificuldades de leitura e escrita;
- A partir do 2º ano de escolaridade:
Dificuldades de leitura:
– Progresso lentificado;
– Necessidade de recurso à soletração, perante palavras desconhecidas, irregulares, pouco frequentes ou com fonemas e sílabas semelhantes;
– Insucesso na leitura de palavras multissilábicas, com presença de omissão frequente a meio da palavra: biblioteca/bioteca;
– Substituição de palavras de articulação difícil por outras com o mesmo significado semântico: automóvel/carro;
– Tendência para tentar adivinhar as palavras, apoiando-se em pistas visuais (ilustração, por exemplo) ou contextuais (sentido da frase), em alternativa à descodificação;
– Dificuldade em ler pequenas palavras funcionais «aí, ia, ao, ou, em de…»;
– Dificuldade na leitura e interpretação de problemas matemáticos;
– Desagrado e tensão em tarefa de leitura em voz alta;
– Leitura sincopada, trabalhosa, pouco fluente;
– Dificuldade em terminar os testes no tempo previsto;
– Caligrafia alterada e presença frequente de erros ortográficos:
Dificuldades de linguagem:
– Discurso pouco fluente, com presença de pausas e hesitações;
– Produção incorreta de palavras multissilábicas, não familiares ou pouco frequentes:
– Omissão, adição e substituição de fonemas e sílabas nas produções orais;
– Alterações na sequência fonémica e silábica;
– Dificuldade em encontrar a palavra exata:
– Uso de palavras imprecisas em substituição do nome exato: a coisa, aquilo, aquela cena…;
-Substituição por outras, semelhantes foneticamente: humidade/humanidade…
– Dificuldade em recordar informações verbais, problemas de memória a curto termo: datas, nomes, números de telefone, sequências temporais, algoritmos da multiplicação, etc;
– Dificuldades de discriminação e segmentação silábica e fonémica;
– Necessidade de tempo extra, dificuldade em dar respostas orais rápidas.
Caso sinta que o seu filho, ou aluno, apresenta dificuldades de aprendizagem da leitura e escrita de forma persistente e sistemática e que, apesar de todos os seus esforços e investimento, não são minoradas ou atenuadas entre em contacto connosco…um psicólogo poderá ajudar!
Dra. Mariana Pereira Machado
Psicologia da Educação e Desenvolvimento da Criança| Heurística – Centro de Psicologia e Educação