09 Mar Guerra & Crianças: Como falar sobre a guerra com as crianças?
Perante a conjuntura em que vivemos, sabemos que alguns pais vivem na angústia de não saber SE ou COMO devem falar com as crianças sobre a guerra, por isso, procuramos responder a algumas perguntas mais comuns para o ajudar.
Devo falar sobre a guerra com as crianças? Não ficarão ainda mais assustadas?
As crianças são, igualmente, expostas à mesma informação que todos nós e vão absorvendo as informações que ouvem na televisão ou que ouvem de conversas de adultos sobre situações como a guerra. Não conversando com elas, estamos a deixá-las livres para interpretar uma informação que elas ainda não têm capacidade de perceber corretamente e isso pode deixá-las ainda mais assustadas e confusas. Por isso, SIM, é importante conversar com as crianças sobre a guerra, dando-lhes informação apropriada para a sua idade e capacidade de compreensão e, acima de tudo, garantindo-lhes a sua segurança e proteção. Não tenha medo de lhes falar sobre a guerra por ser um tema que envolve violência e conflitos. “Por muito que conversar sobre violência, conflitos e guerra possa ser assustador e gerar medos, é ainda mais assustador pensar que ninguém pode falar connosco sobre esses sentimentos” (OPP, 2022). Conversar sobre o assunto pode ajudá-lo a corrigir certas ideias erradas que as crianças podem ter, filtrar as informações que podem estar a receber de fontes inconfiáveis e dar-lhes um espaço para se sentirem validadas pelo que sentem. Porque afinal, é normal estar assustado perante uma situação destas.
No entanto, existem exceções. No caso das crianças mais pequenas que se mostram ignorantes ao que está a acontecer e sem interesse em saber mais, não sinta necessidade de as colocar a par da guerra. Mostre-se apenas disponível para caso esse momento chegue.
Mas então, por onde começo?
Primeiramente, informe-se para que consiga responder com informações corretas e atualizadas, mas não precisa de saber tudo. É normal não estar a par de tudo e está tudo bem em dizer que não sabe. Quando acontecer ficar sem resposta para uma pergunta, pode acrescentar que vai procurar descobrir para não deixar a criança a especular, ou propor procurarem e descobrirem em conjunto. Mas, lembre-se, não minta ou invente.
Começar também não tem de partir de si. Pode permitir que as preocupações das crianças, nas suas próprias palavras, guiem a direção e a profundidade da conversa. Certamente a criança terá já as suas dúvidas ou preocupações, por isso, permita-lhe expressar os seus sentimentos e pensamentos sobre o assunto. Algumas crianças poderão não conseguir articular os seus sentimentos em palavras, mas pode encorajá-las a desenhar, brincar ou contar histórias
direta ou indiretamente relacionadas com o que está a acontecer. E lembre-se, leve as preocupações das crianças a sério. Por vezes elas podem fazer conexões inimagináveis para os adultos, mas que lhes causam ansiedade real. Mostre-se disponível para ouvir todas as suas preocupações e seja curioso em relação àquilo que a criança já sabe e pode estar a pensar ou sentir, sem assumir nada em particular.
Assim que tiver acesso às preocupações e sentimentos da criança, valide! É importante comunicar à criança que compreendemos que o que está a acontecer nesta situação de guerra é confuso e complicado. Por exemplo, dizer “Pareces triste quando falamos sobre isto. Eu também estou triste”, comunica à criança que os seus sentimentos são naturais, compreensíveis e que o adulto se sente de forma semelhante e está a aprender a lidar com isso.
E como explico uma situação tão complexa?
Procure adequar a linguagem e informação à idade da criança. Por exemplo, a uma criança mais nova podemos dizer “Algumas pessoas, noutros países, discordam em coisas que são importantes para eles. E, às vezes, quando isso acontece, há uma guerra. A guerra não está a acontecer perto de nós e não corremos qualquer perigo. Estamos seguros”. É importante sermos honestos e não minimizarmos a gravidade da guerra, contudo, por outro lado, não há necessidade de sobrecarregar a criança/jovem com informação desnecessária e que pode não conseguir processar. Procure sempre assegurar à criança que está segura e protegida, que existe esperança e que muitas pessoas se uniram para ajudar.
No entanto, sabemos que as crianças podem colocar perguntas complexas, para as quais não existem respostas claras ou diretas. Por isso, partilhamos consigo algumas pistas de respostas, sugeridas pela Ordem dos Psicólogos Portugueses, a algumas das questões mais frequentes por parte das crianças:
· O QUE É A GUERRA? A guerra acontece quando os países ou grupos de pessoas não concordam sobre algo importante para todos, mas usam meios violentos para lutarem uns com os outros. Pode haver guerras entre países diferentes ou guerras entre grupos de pessoas de um mesmo país. Infelizmente, sempre existiram guerras.
· PORQUE É QUE EXISTEM GUERRAS? As guerras podem acontecer por muitas razões. Por exemplo, um país pode achar que não tem território ou recursos suficientes e podem tentar obtê-los retirando-os, à força, de um outro país. Mas
também podem acontecer porque um país quer “impor a sua forma de pensar e ver o mundo”.
· O NOSSO AMIGO/ FAMILIAR VAI MORRER? Preocupa-te que lhe aconteça alguma coisa e já não o/a voltemos a ver, não é? Estamos todos preocupados. Mas o nosso amigo/ familiar não está sozinho e há muitas pessoas a tentar protegê-lo/a. Vamos esperar que ele/a volte para casa, em segurança, o mais rapidamente possível. (Sobretudo se um familiar da criança/jovem está realmente em perigo, não é adequado minimizar a preocupação da criança/jovem, nem dar-lhe uma certeza – “vai ficar tudo bem” – que nós próprios não temos. É preferível reconhecer e partilhar dos seus receios).
· O AVÔ E A AVÓ ESTÃO BEM? Sim, os avós estão bem. Eles vivem muito longe do local onde está a acontecer a guerra. Queres ligar-lhe para falares com eles? (É comum que crianças de todas as idades imaginem um risco imediato para os seus familiares e amigos).
· TAMBÉM NOS VÃO ATACAR A NÓS? A guerra está a acontecer longe de nós, por isso não precisas de te preocupar com ataques ou bombas a destruir a nossa casa. Vamos continuar todos juntos. (É comum que crianças de todas as idades imaginem um risco imediato para si próprias).
· PORQUE É QUE HÁ PESSOAS QUE MATAM OUTRAS PESSOAS? Não tenho uma resposta para essa pergunta, também não entendo. De facto, nenhuma pessoa devia matar outra e todos devemos contribuir para que isso não aconteça.
Falar sobre estes assuntos é complicado até para adultos, por isso, compreendemos que seja complicado abordar o tema com crianças. Se sentir que não consegue acalmar os receios da sua criança sozinho/a, procure ajuda. Um/a psicólogo/a pode ajudar!