Novas perspetivas sobre o stress podem ajudar a acalmar uma mente preocupada

A ameaça do coronavírus está a ter um impacto significativo nas nossas vidas. Para determinar que medidas temos que adotar e para estimar que riscos estamos a enfrentar, os cientistas usam modelos estatísticos para perceber melhor a propagação do vírus. Estas estratégias ajudam a ganhar algum controlo sobre a pandemia. Curiosamente, nós, enquanto seres humanos, agimos continuamente como estes cientistas, embora de um modo mais automático. A nossa mente procura estimar de uma forma constante se estamos em risco de sermos infetados, de perder o nosso emprego ou de ser criticado/a. No entanto, existem grandes diferenças na forma como as pessoas estimam estes riscos e para algumas pessoas estas avaliações levam a espirais de profunda preocupação.

O que é que faz como que algumas pessoas tenham uma maior tendência para se preocuparem do que outras? Curiosamente, abordagens recentes relacionadas com a teoria da evolução sugerem que o stress e a preocupação são na verdade respostas muito comuns e lógicas, e até mesmo automáticas, às perceções de ameaça. Quando fazemos previsões sobre o futuro, todos nós tendemos a ser mais cautelosos. Isto acontece porque, no passado, apenas as pessoas que eram cautelosas quando confrontadas com sinais de ameaça sobreviviam e foram estas que passaram os seus genes às gerações seguintes. Assim, a questão não deveria ser “porque é que as pessoas se preocupam?”, mas sim “porque é que algumas pessoas não conseguem desligar esta preocupação perante as ameaças e incertezas?”.

A resposta parece estar na capacidade de reconhecer sinais de segurança. Só quando identificam sinais claros de que estão em segurança é que as pessoas deixam de estar preocupadas. Quando fazemos previsões sobre os riscos que podemos encontrar no mundo, nós avaliamos sinais de perigo e de segurança. Contudo, a segurança tem sido amplamente ignorada por modelos anteriores de stress. O nível da “sensação de segurança” que um indivíduo tem é, antes de mais, determinada pela sua história de aprendizagem. Quando se cresce em ambientes seguros, aprende-se gradualmente que o mundo é um lugar seguro e que é previsível e controlável (pelo menos até certo ponto). Aprende-se a formar relações de vinculação próximas com outras pessoas que podem ser cuidadosas, confiáveis e simpáticas. No entanto, nem todas as pessoas crescem neste tipo de contextos seguros. Experiências stressantes durante a infância terão um impacto na sensação de segurança do individuo que levará a uma predisposição para maiores níveis de preocupação ao longo da sua vida.

Mas existem outras fontes de segurança. Por exemplo, pode desenvolver-se uma sensação de segurança através de uma rede social de apoio. Os seres humanos evoluíram em grupos, e o nosso sistema de stress é mais fortemente inibido quando estamos com outras pessoas, do que quando estamos sozinhos. Também já foi demonstrado que um bom abraço reduz a nossa resposta de stress.

 

Prof. Doutora Joana Carreiro

Psicóloga Clínica e da Saúde | Heurística – Centro de Intervenção e Apoio Pedagógico e Psicológico
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